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Relato do educador

Breve história dos musicais (Parte 2)

Postado em 23 de janeiro de 2020

Os anos 1920 e 1930 foram um marco para o desenvolvimento dos filmes sonoros e, consequentemente, musicados. Atores, maquinário e técnicos tiveram que investir em novos caminhos. Vários técnicos chegaram aos Estados Unidos vindos da Europa, com uma experiência muito grande na área de teatro, para realizar futuras realizações no cinema.

Nesta segunda parte da história dos musicais, vamos apresentar alguns filmes que foram marcos no desenvolvimento do cinema sonoro e dos musicais. Um desses filmes que merece destaque é Aplauso, de 1929. Conta a história de uma atriz burlesca que não aceita o envelhecimento e a decadência – trama que ficaria muito comum em Hollywood posteriormente, como Gigi, Crepúsculo dos deuses e Cantando na chuva. Por conta da falência ela é obrigada a tirar sua filha do colégio de freiras e a leva para viver junto com ela no ambiente do teatro burlesco.

O diretor Rouben Mamoulian era também diretor de teatro da Broadway, que, assim como vários outros, foram incorporados ao cinema depois do advento sonoro. Ele teve a sorte de já dirigir seu primeiro filme (que era sonoro) sem as restrições do cinema mudo, aproveitando as características e possibilidades dessa nova fase. Ele fez importantes inovações no cinema, como utilizar dois microfones ou ousar em movimentos de câmera (lembrando que o cinema mudo já explorava vários movimentos). Com o cinema sonoro, a câmera se tornou estática novamente, levando um tempo para sua movimentação. Já na década de 1930 podemos citar o importante A viúva alegre, do diretor Ernst Lubitsch, que conta a história de uma viúva, dona de mais da metade da fortuna de um país que depende deste dinheiro para não falir. Quando esta personagem decide morar em Paris, o governo contrata os serviços de Danilo, que fica responsável por conquistar a viúva. As evoluções técnicas desse filme foram muito importantes para o cinema sonoro. A sobreposição de imagens, os múltiplos posicionamentos de câmeras e os diálogos com duas linhas de interpretação foram importantes recursos utilizados pelo diretor. Neste filme, a cena de reconciliação do casal romântico ao som de uma valsa já mostra características que seriam muito caras ao cinema mudo e chegaram até a contemporaneidade. A montagem deve levar em conta a dança e a música de forma sincrônica, de modo que os cortes completem o ritmo musical.

 

A partir dos anos 1930 começou a estourar o sucesso de uma dupla de dançarinos e atores: Fred Astaire e Ginger Rogers, que ficaram conhecidos como Astaire-Rogers. Antes dessa dupla, a dança nos filmes se dividia quase sempre em duas possibilidades: como um elemento ornamental ou tendo um papel fundamental para o desenrolar da trama. Foi essa dupla que melhor criou a junção dessas duas possibilidades. A dupla acompanhou parte do desenvolvimento técnico do cinema. Os equipamentos haviam se tornado mais leves, aumentaram as possibilidades de foco. Desse modo, novos movimentos poderiam ser criados, incentivando uma nova estética dos musicais. Fred Astaire, por exemplo, sempre ressaltava condições ideais para que as danças ocorressem; exigia que a câmera enquadrasse o corpo inteiro e pedia o mínimo de cortes possíveis, com a intenção de mostrar ao máximo a coreografia. Astaire-Rogers foram um dos principais elementos para consolidar a dança nos musicais. Durante os anos 1930, realizaram vários filmes, sempre com garantia de público.

Em 1939, o musical teve outra grande transformação, por conta do filme O mágico de Oz, de Victor Fleming. Neste filme, eles apresentavam uma nova função para a música: as falas mais marcantes eram cantadas no lugar de serem faladas. A música ganha uma importância narrativa, onde o espectador passa a identificar melhor os personagens por meio das canções. O ano do filme é um marco para produtora MGM, que inaugura a fase de ouro da produtora, que iria durar até os anos 1960. Essa nova fase tinha uma importante característica de inserir as sequências musicais cada vez mais afinadas com a trama, evitando números musicais que destoassem da narrativa. Os contos de fadas (abordados também na animação A Branca de Neve e os sete anões, de 1937) eram um importante motor para apresentar ao espectador um universo fantástico. Outro acerto do filme foi mesclar cenas “reais” (com tons de sépia) com as do universo fantástico (com a nova tecnologia extremamente colorida do Techniocolor). Na década de 1940, os musicais vão sofrer outra transformação em razão da Segunda Guerra Mundial. Eles ficaram muito mais ligados a uma visão patriótica dos EUA. Posteriormente, esse sentimento deu lugar a uma propaganda do estilo de vida americano. Depois da Guerra e no final dos anos 1940, a televisão começava a se tornar objeto de desejo das pessoas. E, a partir dos anos 1950, o cinema percebeu que deveria ser uma experiência completamente diferente da TV, e novas experiências passaram a ser feitas durante esse período. É claro que a produção de musicais, por conta das orquestras, dançarinos, cantores, tornava a criação muito onerosa. Apesar de grandes musicais terem sido feitos na década de 1950 (um dos períodos mais produtivos dos musicais), nos 1960 essas produções foram dando lugar a outros gêneros. Filmes direcionados para a televisão (mais baratos) começaram a ser produzidos em uma escala maior. Junto a isso, musicais antigos eram vendidos para a TV.

A década de 1960 ficou conhecida como o primeiro declínio do gênero, mas, mesmo assim, algumas obras conseguiram se destacar. Deixaram de apostar na fórmula da inocência do estilo de vida americana para mostrar tramas que celebravam dramas da rebeldia da juventude estadunidense, como Amor sublime amor, de 1961. O filme era uma espécie de releitura, com elementos mais modernos, de Romeu e Julieta . O conflito amoroso girava em torno de um casal separado por dois lados de duas gangues, uma porto-riquenha e outra norte-americana. Uma das principais dificuldades foi mesclar o clima lúdico dos musicais com o clima tenso das gangues. A dança, nesse sentido, teve um papel fundamental, explicitando os sentimentos e emoções dos personagens. As danças seguiram a estética de Fred Astaire ao serem filmadas mostrando o corpo inteiro, acompanhando os movimentos e realizando o mínimo de cortes possíveis. O filme ganhou 10 Oscars, incluindo o de melhor filme em 1961. Após os anos 1960, Hollywood começou a fazer produções musicais mais pontuais, diminuindo o ritmo de produção. Mas vale lembrar que os musicais de Hollywood sempre ajudaram a divulgar um estilo de vida otimista americano, e a relação com o cinema de narrativa clássica ajudava a manter a indústria em funcionamento em plena crise. É um gênero que merece análise tanto por seus aspectos técnicos quanto ideológicos.

 

Por Ícaro San Carlo

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