MIS

Museu da Imagem e do Som

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A verdadeira dor

Cine debate

Data

03.04

Horário

20h

Ingresso

Gratuito (retirada com uma hora de antecedência na bilheteria do MIS)

Local

Auditório MIS (172 lugares) 

Classificação

16 anos

Em parceria com o StandWithUs Brasil e apoio da Searchlight Pictures, o MIS realiza um cine debate sobre o filme “A verdadeira dor”, vencedor na categoria de Melhor Ator Coadjuvante para Kieran Culkin e indicado a Melhor Roteiro Original no Oscar 2025. Após a sessão, será realizado um debate sobre o tema “A verdadeira dor: memória, traumas transgeracionais e o impacto psíquico do Holocausto”, com participação dos psicanalistas Leonardo Goldberg e Alexandra Nigri e mediação da jornalista Sabrina Abreu. 

Sobre o filme 

A verdadeira dor  

(dir. Jesse Eisenberg, EUA/Polônia, 2024, comédia/drama, 90 min, 16 anos) 

Com roteiro e direção de Jesse Eisenberg, a comédia dramática explora as complexidades das relações familiares e a busca por identidade em meio a traumas que nos atravessam. A trama acompanha David (Jesse Eisenberg), reservado e pragmático, e Benji (Kieran Culkin), seu primo excêntrico e boêmio. Apesar das diferenças, eles embarcam juntos em uma viagem à Polônia para homenagear a avó, sobrevivente do Holocausto e recém falecida, participando de uma excursão que revisita memórias do Holocausto e conecta o grupo às raízes familiares. Durante a jornada, antigas tensões entre os primos ressurgem, transformando a empreitada em uma experiência emocionalmente intensa. À medida que exploram o passado da família e enfrentam as diferenças que os separam, David e Benji são forçados a confrontar suas próprias escolhas e perspectivas de vida. 

Sobre os convidados 

Alexandra Wojdyslawski Nigri 

Psicóloga e psicanalista, formada pela PUC-SP, e mestre pela Universidade de Tel Aviv. É psicoterapeuta na rede clínica da SUR – Psicanálise e Intervenções Sociais, para atendimentos em situações sociais críticas. Passou os últimos dois anos em Israel, atuando em pesquisas para novos tratamentos direcionados aos transtornos de estresse pós-traumático, inclusive em meio à guerra. 

Leonardo Goldberg  

Psicólogo e psicanalista, doutor em psicologia pela USP com pós-doutorado pela Université Côte d’Azur. É professor universitário e autor dos livros “Freud: uma introdução à clínica psicanalítica” e “O sujeito na era digital: ensaios sobre psicanálise, pandemia e história”, ambos pela Editora Almedina. 

“A garota da agulha” por Luciana Saddi

“A garota da agulha”, de Magnus von Horn, indicado ao Oscar de melhor filme Internacional em 2025, é uma obra perturbadora. Em Copenhague, após a Primeira Guerra Mundial, a jovem operária Karoline (Vic Carmen Sonne) se envolve amorosamente com o dono da fábrica em que trabalha. Sonha em constituir família e casar com o encantador e poderoso burguês, mas perde o emprego e é abandonada pelo patrão ao engravidar. Para completar o quadro de pobreza e desespero o marido, ex-combatente, que havia desaparecido na guerra retorna, mas está irreconhecível por conta dos ferimentos sofridos. Abandonada, miserável e grávida conhece Dagmar (Trígono Dyrholm), que possui uma agência de adoção clandestina disfarçada de loja de doces e lhe oferece um meio de subsistência. Karoline e Dagmar criam forte vínculo que parece garantir um futuro melhor para a jovem e seu bebê, até que surge uma revelação inesperada e chocante sobre a verdadeira natureza do trabalho de Dagmar. 

Os horrores da guerra sempre foram explorados pelo cinema. A destruição não se restringe ao campo de batalha também é transferida para a sociedade como um todo. Os traumas gerados impregnam o pós-guerra, historicamente marcado por crise social e econômica. Muitos estudiosos apontam que a segunda guerra mundial poderia ser compreendida como continuidade da primeira. Afinal, o pós-guerra teria sido terrivelmente doloroso, portanto, incapaz de cicatrizar as feridas abertas pelo confronto, ao contrário, acirrou-as. A trama faz uma reflexão profunda sobre os desamparados ao contar a história de mulheres levadas ao extremo para sobreviver no contexto de terra arrasada. 

Em artigo de 1915, quando a primeira grande guerra estava no auge, Freud escreveu o ensaio “Considerações atuais sobre a Guerra e a Morte”, destaco uma passagem dessa reflexão: ” A guerra … derruba, com cega cólera, tudo o que lhe aparece pela frente, como se depois dela já não houvesse de existir nenhum futuro e nenhuma paz entre os 

homens. Desfaz todos os laços da solidariedade entre os povos combatentes e ameaça deixar atrás de si uma exasperação que, durante longo tempo, impossibilitará o reatamento de tais laços”. 

Acrescento uma reflexão a partir de “A garota da agulha”: a guerra também gera destruição dos laços sociais entre humanos não combatentes de um mesmo Estado que sofrem de estranha contaminação; o vírus da guerra se infiltra no tecido social do pós-guerra dando continuidade à brutal luta pela sobrevivência e à carnificina. 

Governo do Estado de SP