Data
26/09/2023 a 12/11/2023
Horários
terças a sextas 10h às 19h | Permanência até 1h após o último horário sábados 10h às 20h | Permanência até 1h após o último horário domingos e feriados 10h às 18h | Permanência até 1h após o último horário
Ingresso
Gratuito
Classificação indicativa livre
No dia 31.10, terça-feira, esta exposição estará fechada para manutenção.
Desde 2011, a iniciativa do MIS seleciona, por meio de convocatória, seis trabalhos de artistas promissores que se distinguem pela qualidade e inovação. Além das exposições, que ganham um acompanhamento curatorial individual, esses projetos também passam a fazer parte do acervo físico e digital do MIS.
Os trabalhos selecionados são expostos em duas etapas. Nesta segunda seleção da temporada 2023, o público do MIS poderá conferir as séries Luz da manhã, de Tayná Uràz; Eu nem faço rap, de João Medeiros; e Vênus como mirada, de Val Souza. O acompanhamento curatorial fica a cargo de Nancy Betts, Ronaldo Entler e Carolina Lauriano.
Sobre as obras
Luz da manhã – por Nancy Betts: “A intimidade de Luz da manhã nasce da relação com seu próprio nome de origem indígena, escolhido por sua mãe, e se refere aos astros celestes, à estrela da manhã. Ao rever suas primeiras referências de fotografia, os álbuns de família, muitas respostas não se encontravam nas poucas imagens, sendo a oralidade de sua mãe e tia-avó essencial para fundar um imaginário. Assim, as poucas fotografias da família de Tayná tornaram-se documentos da sua ancestralidade – nos quais a falta de imagem, apagamentos, violências e traumas fazem parte do passado.
Pela intenção com a prática da transformação, sua busca por imagens nunca vistas cruza a fronteira do particular. A artista apresenta sua exposição por meio de um dispositivo – para Foucault, a função do dispositivo é ser uma estratégia de pensamento –; é essa força de pensar que revela, com seu processo de ficcionalização. Intervindo em arquivos, “autoficciona” as andanças de seus ancestrais por esse território; trabalha, ainda, sobre a terra, para cultivar suas raízes, semeando suas memórias.
Muda a experiência do tempo, as intervenções estabelecem um kairós – o momento eternizado, não medido pela linearidade de Chronos, mas sim pelo afeto. É por meio desse sentimento que seu anseio de pertencimento se completa, ao preencher lacunas e evidenciar o apagamento. Como ela declara, usa o dispositivo para ressignificar, ritualizar, para trazer uma consciência e cultuar a imagem e a não imagem, criando, ao mesmo tempo, seu lugar na ausência e a afirmação de sua presença.”
Eu nem faço rap – por Ronaldo Entler: “João Medeiros tem intimidade com o rap. Assina uma coluna numa publicação especializada em que discute a cena nacional e internacional do hip-hop e acompanha, com sua câmera, diversos expoentes brasileiros. Mas faz questão de dizer: “eu nem faço rap”. Afinal, é jornalista e fotógrafo; não é músico. No entanto, essa negação conduz a uma pergunta: ele não faz rap, mas do que o rap é feito? Nem todas as respostas estão aqui, mas estas fotos permitem uma constatação: ele é feito também de imagens. O que coloca em dúvida aquilo que foi negado: João Medeiros não faz música, mas há algo do rap que ele ajuda a construir.
As imagens tornam-se cruciais para uma cultura colocada à margem dos discursos hegemônicos e que, quando representada, está sempre sujeita aos estereótipos. Porque elas são uma intervenção política num espaço que se constrói espremido entre a invisibilidade e olhares míopes.”
Vênus como mirada – por Carolina Lauriano: “Para o programa Nova Fotografia, Val Souza apresenta o projeto Vênus como mirada, trazendo novos elementos pictóricos para discutir a construção do imaginário social sobre o corpo da mulher negra, a partir das fotografias do alemão Alberto Henschel.
Vênus como mirada surge para questionar tais imagens produzidas por Henschel, propondo uma nova leitura contemporânea. Em uma primeira camada, Val Souza nos instiga a pensar a complexa relação entre fotógrafo e fotografado, tomando como hipótese inicial os valores político-sociais deterministas projetados no imaginário, a partir da iconografia sobre o negro produzida por fotógrafos europeus no século 19. Quando adensamos a camada de gênero, observamos como tal relação também corroborou para uma intenção de olhar sobre o corpo da mulher negra, reiterando noções de exotização, produzindo uma dupla violência sobre esse corpo.
Utilizando-se dos recursos do autorretrato, a artista criou uma série de lenticulares que sobrepõe imagens de Henschel às suas próprias, construindo uma narrativa de emancipação, liberdade e direito ao desejo. Ao observarmos uma imagem do passado transformar-se em uma imagem do agora, tomamos como direção uma construção de futuro.”
Sobre os artistas e curadores
João Medeiros (Juiz de Fora, MG, 1996) é artista visual e jornalista com especialização em cultura. Em sua pesquisa artística, a juventude negra brasileira é o tema que articula uma diversidade de meios de expressão, entre eles a escrita, a fotografia documental e a videoarte. O retrato, o acesso ao lazer e as relações familiares são seus principais interesses. No jornalismo, produz sobre música popular contemporânea e novas mídias.
Ronaldo Entler (São Paulo, SP, 1968) é pesquisador e crítico de fotografia, mestre em Multimeios (IA-Unicamp), doutor em Artes (ECA-USP) e pós-doutor em Cinema (IA-Unicamp). É professor dos cursos de Comunicação e de Artes da FAAP. Desenvolve pesquisas no campo da estética e das teorias da imagem, orienta e acompanha projetos de artistas visuais. Foi editor do site Icônica, é autor do livro de contos Diante da sombra (Confraria do Vento, 2018) e colunista do site da revista Zum.
Tayná Uràz (Petrópolis, RJ, 1995) é artista visual. Vive em São Paulo, trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. Estuda artes na Universidade Federal Fluminense. Em seu trabalho, emprega a imagem como memória mágica e conectiva, explorando seus desejos de conhecimento territorial para reconhecimentos sociais. Suas pesquisas de retomada são ferramentas para investigar os meios urbanos que habita, traçando comportamentos, identidades e existências. Participou da residência artística Capacete e MAM-RJ, em 2020, e da residência Laboratório de Imagens, em parceria com o IMS-RJ e o Observatório de Favelas, em 2022.
Nancy Betts (Manaus, AM, 1946) é mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professora de História da Arte na FAAP. Integra o corpo docente dos cursos de pós-graduação de Audiovisual e Mídias Interativas do SENAC-SP. Em 2005, foi professora convidada da Unichapecó-SC. É pesquisadora CNPq em Linguagem da Arte e da Artemídia. Integrou projetos de curadoria como Fidalga ’05, no Paço Municipal de Santo André, SP, em 2005; A subversão dos meios, no Itaú Cultural, em São Paulo, em 2003; Palavra-figura, no Paço das Artes, SP, em 2002; XS/XL (extra small, extra large), no Muma (Museu Metropolitano da Arte), em Curitiba, em 1999/2000; além de curadorias em locais como Espaço Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro; Galeria Nara Roesler, em São Paulo; Galeria Marina Potrich, em Goiânia; e Muna (Museu Universitário da Arte), Universidade Federal de Uberlândia, MG.
Val Souza (São Paulo, SP, 1985) é artista visual e vive entre São Paulo e Salvador. Sua prática artística atravessa os campos da filosofia e dos estudos culturais. Com forte interesse pela história e iconografia das mulheres negras, a artista incorpora fotografia, vídeo e instalação por meio de uma exploração contínua de autoexposição e subjetividade. Em 2020, recebeu a Bolsa de Fotografia ZUM/IMS.
Carollina Lauriano (São Paulo, SP, 1983). Vive e trabalha em São Paulo. É formada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo. Tem extensão em “Pesquisa em arte, design e moda”, pela Central Saint Martins/UAL, atuando como curadora independente desde 2017. Entre 2018 e 2020, foi curadora e gestora do Ateliê397, um dos principais espaços independentes de arte de São Paulo. Em suas pesquisas, interessa discutir a inserção, desafios e conquistas de jovens mulheres artistas no mercado da arte. Entre os principais projetos realizados, estão as exposições Corpo além do corpo, que discutiu o corpo queer e a transexualidade feminina e a busca pelo protagonismo de novos corpos na sociedade; e A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos, na Galeria Baró, primeira exposição a reunir vinte artistas racializadas em uma galeria comercial para apresentar e discutir a produção de corpos dissidentes dentro do mercado de arte. Foi curadora adjunta da 13ª edição da Bienal do Mercosul (2022) e coordenadora da residência artística Usina Luis Maluf.