MIS

Museu da Imagem e do Som

MIS

Museu da Imagem e do Som

Carregando Eventos

#MISemCASA | Ciclo de Cinema e Psicanálise | Lazzaro Felice

A psicanalista e mediadora Luciana Saddi recebe o psicanalista Luiz Carlos Menezes e o editor adjunto da Ilustrada Guilherme Genestreti.

Data

10/08/2021

Horários

20h, ao vivo

Ingresso

Gratuito – online

com interpretação em Libras

A cada edição o Ciclo de Cinema e Psicanálise traz debate sobre um filme mediado por Luciana Saddi, coordenadora de Cinema e Psicanálise da Diretoria de Cultura e Comunidade da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Em seguida, o público pode participar com perguntas, integrando novas perspectivas sobre a obra discutida. Na temporada #MISemCASA, as edições são quinzenais, e o público pode assistir ao filme antecipadamente em plataformas de streaming. 

Na primeira edição de agosto, o Ciclo de Cinema e Psicanálise debate o longa-metragem italiano “Lazzaro Felice” (dir. Alice Rohrwacher, Itália, 2018, 125 min, 12 anos, disponível na Netflix). A psicanalista e mediadora Luciana Saddi recebe o psicanalista Luiz Carlos Menezes e o editor adjunto da ilustrada Guilherme Genestreti. O filme pode ser entendido como um ensaio sobre a exploração do trabalho humano e tem como contraponto a bondade ingênua, o amor incondicional e a idealização. 

Assista ao vivo no canal do MIS no YouTube.

Sobre os debatedores

Luis Carlos Menezes é psicanalista, membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Doutor em Ciências pela Universidade de Paris. Formação analítica na Association Psicanalytique de France (APF). Presidente da SBPSP DE 2004 a 2008. Coordenador Científico na Diretoria da FEPAL, de 2008 a 2010. 

Guilherme Genestreti é editor adjunto da Ilustrada, da Folha de S.Paulo. 

Sobre a mediadora

Luciana Saddi é psicanalista e escritora. É membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, mestre em Psicologia pela PUCSP e diretora de Cultura e Comunidade da SBPSP (2017/2020). É autora de “Educação para a morte” (Ed. Patuá), coautora dos livros “Alcoolismo – série o que fazer?” (Ed. Blucher) e “Maconha: os diversos aspectos, da história ao uso”. É fundadora do Grupo Corpo e Cultura e coordenadora do programa de cinema e psicanálise da diretoria de cultura e comunidade da SBPSP em parceria com o MIS e a Folha de S.Paulo. 

Sobre o filme

Lazzaro Felice (dir. Alice Rohrwacher, Itália, 2018, 125 min, 12 anos disponível na Netflix)

Lazzaro (Adriano Tardiolo) é um garoto pobre e pouco inteligente, mas bondoso com todos a sua volta. Explorado pelos familiares e tendo que fazer trabalhos pesados diariamente, ele ainda tem que colaborar com a marqueza que é proprietária das terras onde Lazzaro vive com a família. Após uma tragédia, Lazzaro retorna à vida no século XXI e, mesmo não compreendendo a lógica desse novo mundo, ele pretende reencontrar a família e viver junto como antes. 

Lazzaro (Adriano Tardiolo) é um garoto pobre, bondoso e subserviente, que não mede esforços para agradar.  No entanto, nada recebe de volta dos parentes. Nem sequer o reconhecimento de sua existência. Pouco inteligente e ingênuo, se submete sem hesitação à exploração da marquesa latifundiária, dona das terras onde vive e, também, procura satisfazer o jovem filho da exploradora – revoltado com sua origem, refratário a autoridade da mãe e que manipula Lazzaro a seu bel prazer. O jovem camponês é simplesmente incapaz de perceber qualquer perigo ou crueldade e se entrega, sem ressalvas ou freios, a todas as formas de abuso.  

O filme se apresenta como um ensaio sobre a exploração de camponeses humildes e trata do regime de servidão que aprisiona os homens à terra e aos senhores feudais. Também expõe a triste ignorância dos miseráveis. A primeira parte se passa, provavelmente, nas décadas de 70 ou 80 do século passado, no entanto, sugere um modo de vida e trabalho medieval. E para completar esse quadro áspero e seco, de abuso e pobreza, há a paisagem árida do sul da Itália e o cultivo do tabaco; o roteiro introduz um perigo constante, um lobo que ronda a propriedade, ameaça e apavora os servos – referência ao emblemático ditado: o homem é o lobo do homem.  

A segunda parte do filme, em algum momento recente do século 21, revela novas formas de exploração e miséria, talvez mais excruciantes e indignas do que as anteriores. E Lazzaro ressurge com as mesmas características. Disposto a servir, crédulo como criança pequena, apegado amorosamente aos que lhe maltratam, incapaz de enxergar a maldade humana.  

O filme de Alice Rohrwacher se aproxima dos gêneros fábula, realismo histórico, realismo fantástico e crônica social. Permite múltiplos vértices interpretativos que descortinam aspectos relativos ao trabalho, crenças religiosas, organização social e tipos psicológicos. A forma narrativa encontrada por Rohrwacher faz parecer possível, alegoricamente, rasgar ou cavar a História para dela extrair diversos retratos interligados de homem e mundo. Por meio de Lazzaro, personagem imemorial, arquetípico, costurando o tempo, atravessando períodos históricos como anjo ou demônio parvo tais retratos parecem ainda mais reais e sólidos. 

Na história bíblica Lazzaro é aquele que espera, com enorme dose de fé, a cura milagrosa para o sofrimento. Morre, para depois ser ressuscitado e curado por Jesus. O personagem título desse filme estranho e instigante representa a ingenuidade infantil, amor desmedido, idealização e desamparo que levam à dependência e submissão. Pode-se perceber, ainda, traços do conceito de confusão de línguas, criado por Ferenczi, que descreve desproporção e choque traumático entre a linguagem da ternura e a da paixão. Entre o universo infantil e o adulto. Também o conceito freudiano de Eu é problematizado pelo filme, afinal, onde e como situar o Outro diante da excessiva ingenuidade de Lazzaro, incapaz de estranhar os estranhos e de perceber os abusos? Melanie Klein, psicanalista inglesa pioneira na análise de crianças, dizia que é preciso conhecer a própria maldade para reconhecê-la nos outros e se defender. Impossível não ver que é justamente a bondade de Lazzaro que descortina e amplia a disposição cruel dos outros. 

SOBRE O #MISEMCASA
A campanha #MISemCASA traz conteúdos em diferentes formatos em todas as plataformas digitais do MIS. A ação acontece em conjunto com o #Culturaemcasa, desenvolvido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa, por conta da orientação do Centro de Contingência do Covid-19 – que determinou que os equipamentos culturais do Governo do Estado de São Paulo tenham seu funcionamento suspenso temporariamente. Conheça a ação #culturaemcasa: cultura.sp.gov.br/culturaemcasa/.

O MIS agradece aos patrocinadores e apoiadores da programação, que também apoiam a iniciativa digital #MISemCASA: Kapitalo Investimentos (patrocínio), Cielo (patrocínio), Vivo (patrocínio), TozziniFreire Advogados (apoio institucional), Bain & Company (apoio institucional) e Telhanorte (apoio operacional).

Governo do Estado de SP