Moda e estética: a vida como obra de arte | Presencial

O curso tem como objetivo geral a análise crítica da noção de “estética da existência” conceituada nos anos 1980 por Michel Foucault. A partir de seu entrelaçamento com a moda, enquanto finalidade existencial, busca analisar como a vestimenta é capaz de criar a “estetização do eu” (Lipovetsky). Em um primeiro momento, trata-se de descontruir a visão corrente desenvolvida pela teoria e a história da moda eurocêntrica da vestimenta apenas como distinção social, isto é, o vestir como pertencimento e distinção entre grupos e classes. Deslocando o sentido originário da estética da existência como “technē tou biou” (arte, técnica da vida) segundo Foucault, repensar o “conhecimento e o cuidado de si” ético, sem dispensar o estético, possuindo o corpo-vestido a capacidade de materializar “subjetividades desviantes”, transformando a vida do indivíduo em obra de arte. 

Pelo conceito de “roupa de artista”, proposto pelos movimentos estético-políticos como o surrealismo francês, o construtivismo russo, o futurismo italiano, os trajes simultâneos do casal Robert e Sonia Delaunay, o Vestido Reforma de Gustave Klimt, a vida e a obra de Charles Baudelaire, Georg Sand, Virginia Woolf, Marcel Proust, Flávio de Carvalho, José Leonilson, Arthur Bispo do Rosário e Hélio Oiticica, as drag queens, travestis, o corpo queer, os dândis do Congo e da Europa, os trajes africanos, 4 do Candomblé, do Bronx e o movimento feminista, revelar que o século 20 apropriou-se da moda como manifesto no corpo, ruptura, subversão e contestação de uma única ética/estética. Desse modo, realizar a genealogia da estetização do eu pela vestimenta em personas históricas, que, ao subverterem os modos de vestir e os códigos instituídos pelo eurocentrismo (de gêneros, sexualidades, classes, padrões de corpos e belezas), possibilitaram a criação de outras formas de vida, com éticas inteiramente outras, excêntricas, margeadas pelo escândalo e a coragem da verdade manifesto no corpovestido. 

Essa coragem da verdade manifestada no corpo-vestido se revela através de uma constelação de filósofos, escritores, artistas, sujeitos históricos queers e os movimentos artísticos de vanguardas dos séculos 19 e 20, que problematizaram a noção de modernismo como o repensar não apenas das formas artísticas, rejeitando os cânones do passado, mas, principalmente, a busca por outros corpos, do escândalo da verdade através da criação de outras formas de vida. 

No limite, o curso tensiona uma provocação à atualidade contemporânea e permeia uma indagação: em um mundo no qual a imagem de si passa pela estetização da vida das redes sociais e da própria existência como empresa/produto (influencers), esvaziada de subjetividade e interioridade, o avesso seriam as imagens provocadas pelas recentes rupturas da moda, não apenas imagens políticas, mas, justamente por istupa de artista nos movimentos de vanguardas do século 20: – O conceito de “roupa de artista”; – A Moda, a revolução e o desejo nas roupas de Elsa Schiaparelli para o surrealismo francês; – A “roupa de artista” no construtivismo russo, no futuri o, a criação de formas de vidas inteiramente outras? 

Aula 1 | Conceitos da teoria de moda.  

Aula 2 | Moda e subjetividade: a estetização do eu como origem da moda – os manuais de conduta, retratos, biografias e escritas de si; o sujeito moderno e a descentralização do eu; a vestimenta e o seu “papel” no sujeito de desejo da psicanálise corpos-vestidos em devir – as noções clássicas de identidade e a ruptura com Nietzsche e o existencialismo francês.  

Aula 3 | A moda como estética da existência: As noções de estética da existência, “technē tou biou” (arte, técnica da vida), conhecimento e cuidado de si no Foucault dos anos 1980; Morais e éticas inventivas em “corpos desviantes” – do dandismo de Oscar Wilde ao queer na moda; para uma crítica à moda colonial – os modos de vestir silenciados.  

Aula 4 | Moda e modernismo – o escândalo da verdade no corpo; modernismo como problema das formas (de Baudelaire ao cubismo do século 20); a vida como literatura: os vestidos de Virginia Woolf e Marcel Proust.  

Aula 5 | Moda e modernismo – o escândalo da verdade no corpo; a história da moda como história das formas do corpo; a ruptura no guarda-roupa feminino: moda e feminismo; as expressões de gêneros na moda – a crítica do agênero e do não binarismo.  

Aula 6 | A roupa de artista nos movimentos de vanguardas do século 20: O conceito de “roupa de artista”; A Moda, a revolução e o desejo nas roupas de Elsa Schiaparelli para o surrealismo francês; A “roupa de artista” no construtivismo russo, no futurismo italiano, nos trajes simultâneos do casal Robert e Sonia Delaunay, no Vestido Reforma de Gustave Klimt e em Joseph Beuys; a estética da existência nos trajes e têxteis de Flávio de Carvalho, Arthur Bispo do Rosário, José Leonilson e Hélio Oiticica.