MIS

Museu da Imagem e do Som

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Mostra de vídeos single channel – Gary Hill

O MIS apresenta a mostra com vídeos do início da carreira de Gary Hill. As sessões são composta por oito trabalhos realizados no formato single channel nas décadas de 70 e 80.

Data

07/03/2010 a 21/03/2010

Horários

7 e 21 de março, domingos

Retirar ingressos a partir das 15h.

O MIS apresenta a mostra com vídeos do início da carreira de Gary Hill. As sessões são composta por oito trabalhos realizados no formato single channel nas décadas de 70 e 80: Electronic Linguistic, 1977; Sums & Differences, 1978; Around & About, 1980; Happenstance (part one of many parts), 1982 – 83; Why Do Things Get in a Muddle? (Come on Petunia), 1984; Incidence of Catastrophe, 1987 – 88; Site Recite (a prologue), 1989; Figuring Grounds, 1985/2008. Os 110 min de vídeo serão divididos em duas sessões, com um intervalo de meia hora entre elas.

Os vídeos
Vídeo mais antigo da mostra, Eletronic Linguistic, de 1977, já trazia em si a preocupação com a linguagem, constante na obra do artista. No trabalho, Hill explora a inter-relação estrutural e orgânica entre linguagem e fenômenos eletrônicos. As imagens do trabalho aparecem como visualizações dos sons gerados eletronicamente. Estruturas pulsantes em forma de pixel, antes pequenas, passam a preencher o plano gradualmente, pulsando em uma intensidade crescente. Os sons sempre se relacionam com a imagem e sua dinâmica, até o momento em que uma sequência de tipo estroboscópico leva a uma imagem fixa e sem som.

Sums & Differences, de 1978, tem por base três imagens em preto e branco: um teclado, uma flauta e um tambor africano. Esses motivos são modificados através de digitalização, solarização e comutação entre quadros. Conforme se alteram, as imagens são acompanhadas acusticamente por rotinas tonais bastante simples dos instrumentos exibidos – pequenas sequências de notas no teclado, algumas batidas de tambor, um trinado breve da flauta. O trabalho se intensifica, e as imagens se sucedem cada vez mais rapidamente, até o surgimento de uma melodia entre os três instrumentos. As imagens se alternam também mais rapidamente, até se sobreporem e serem cortadas em tiras verticais. Após uma série de transformações, os sons modulados e as crescentes tiras dos instrumentos originais criam uma espécie de “máquina” abstrata ou caixa de música.

A relação entre linguagem e experiência continua como essencial para Around & About, de 1980. O vídeo, colorido, foi realizado quando Hill teve de deixar seu apartamento e morar em seu escritório. “Around & About surgiu de uma situação ‘e se’. E se eu cortasse as imagens a cada sílaba do texto falado? Uma tarefa difícil para a época de máquinas U-matic e sloopy contollers. Eu fiz tudo manualmente, apertando o botão edit a cada sílaba”, afirma o artista. O texto foi escrito (ou talvez soletrado) rapidamente, impulsionado pelo fim de uma relacionamento. As imagens utilizadas foram todas filmadas no pequeno escritório, uma vez que, para o artista, não importava realmente quais fossem, pois “tratava-se mais de mudança e de manter o espectador ocupado enquanto eu falava”.

Happenstance (part one of many parts) foi realizado entre 1982 e 83. A abertura deste trabalho em preto e brando mostra o quadrado, o círculo e o triângulo como formas básicas, às quais se unem letras e palavras. Ao mesmo tempo, sons são associados aos elementos visuais: um bumbo para o quadrado, um prato para o círculo e um ruído estridente para o triângulo. A interação entre linguagem e imagem constrói uma página repleta de texto: "pontos de fuga" que se deslocam para baixo na página, transformando-se em "pontos em fuga". As letras criam uma pirâmide, que se transforma no húmus de onde cresce um árvore de letras, cujas folhas-caracteres, ao cair, formam palavras no solo. Hill cria uma espécie de coreografia do pensamento sobre o caráter efêmero dos significados linguísticos dentro da “natureza” da linguagem. Elementos musicais e sonoros ressaltam a singularidade de cada passagem.

Com 32 minutos de duração, Why Do Things Get in a Muddle? (Come on Petunia), de 1984, é o primeiro trabalho de Hill com um roteiro pré-elaborado. Nele, Alice, no País das Maravilhas, pergunta a seu pai por que as coisas se confundem (why do things get in a muddle), dando início a uma conversa metalinguística. Através do espelho (through the looking glass), revela-se a inversão da ordem habitual das coisas: o pai ingere a fumaça de seu cachimbo, as cartas jogadas caem do ar ordenadamente para as mãos de Alice. A linguagem dos dois protagonistas parece estranhamente arrastada e parcialmente incompreensível. Para o vídeo, Hill fez anotações fonéticas dos textos falados de trás para frente por Alice e seu pai. No final da fita, quando Alice está na frente do espelho, as letras da legenda ("Come on Petunia") se reagrupam logicamente como "Once upon a time."

Incidence of Catastrophe, de 1987-88, foi inspirado na novela Thomas the Obscure, de Maurice Blanchot, na qual o protagonista é leitor da novela em que está. No vídeo, Thomas é interpretado por Hill, que parece despertar de um afogamento. Na cena seguinte, o leitor tenta entrar no livro, somente para se descobrir parte de intensos sonhos e alucinações. Thomas/Hill lê o livro, quando, subitamente, sente-se observado pelas palavras. Em outro “capítulo”, encontra-se sozinho em seu quarto à noite, acometido por uma estranha doença, e a mera visão do texto faz com que vomite violentamente. Achando que ainda é capaz de funcionar socialmente, o personagem participa de um jantar. A conversa se transforma em palavras isoladas, sem qualquer possibilidade de significado. A cena final mostra Hill física e mentalmente destruído: encolhido em posição fetal, nu sobre seus excrementos, balbuciando sons ininteligíveis. As páginas do livro tornaram-se paredes monumentais com letras colossais que, ameaçadoramente, cercam e aprisionam o corpo nu.

Site Recite (a prologue), de 1989, mostra um horizonte nebuloso ocupado por objetos estranhos, como crânios de pequenos mamíferos, borboletas, nozes e outros achados “botânicos”, que se espalham sobre uma mesa redonda ao lado de conchas e anotações amassadas. A câmera se move ao redor da mesa, capturando os objetos que, devido a uma profundidade de foco superficial, destacam-se um após o outro, criando um panorama bastante confuso. A câmera revela, assim, a efêmera beleza dos itens, detendo-se em cada um por apenas uma fração de segundo. Esta contínua alteração de foco permanece durante todo o vídeo, enquanto um narrador explora seu momentâneo estado de consciência e sua relação com o mundo, verbalizando seus pensamentos como objetos transitórios. No quadro final, o espectador entra na boca de quem fala, como se estivesse olhando para fora. Conforme o narrador abre sua boca e fala, a luz invade a cavidade falante, a língua se move, e os dentes mastigam as últimas palavras do trabalho: “imaginando o cérebro mais perto que os olhos”. 

O oitavo vídeo, Figuring Grounds (1985-2008), foi realizado em colaboração com George Quasha e Charles Stein. Encarando-se mutuamente, Quasha e Stein começam vocalizando partículas mínimas de linguagem, e a busca improvisada por vozes passa por enxames de fonemas reconhecidos, e uma palavra ou frase eventualmente surgem, para desaparecer logo em seguida. O movimento da câmera e seus jogos focais espelham a expressão vocal repleta de nuances, fortemente relacionada com movimentos faciais e corporais. As vozes se sobrepõem, em uma tentativa de deixar raízes primárias da linguagem falarem por si mesmas.

Os vídeos serão exibidos em audio original, sem legendas.

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