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Museu da Imagem e do Som

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Sylvio Back, 85 anos

Comemorando os 85 anos do premiado cineasta e poeta, o MIS apresenta, em duas sessões diárias, a exibição de seus doze longas-metragens

Data

18/07/2023 a 23/07/2023

Horários

Diversos

Ingresso

Ingresso gratuito (retirada com uma hora de antecedência na bilheteria do MIS) 

Classificação de acordo com cada filme 

Comemorando os 85 anos do premiado cineasta e poeta Sylvio Back, o MIS apresenta, em duas sessões diárias, a exibição de seus doze longas-metragens, detentores de bela fortuna crítica e de uma centena de láureas nacionais e internacionais, incluída sua obra literária. A mostra “Sylvio Back, 85 anos” abre com o primeiro filme do autor, “Lance maior”, realizado em 1968, e que colocou Curitiba e o Paraná no mapa do cinema brasileiro. Cada filme do repertório em tela é um capítulo da vida e obra de Back, constituída por 25 livros (poesia, roteiro, ensaio) e 38 filmes de curta, média e longas-metragens, escritos e dirigidos ao longo de sessenta anos. As obras revelam um olhar único, pelo seu conteúdo e linguagem equidistantes tanto da estética em voga quanto das paixões da história. Nessa perspectiva, estão, na sequência cronológica, “A guerra dos pelados” (1971), resgate ficcional da sangrenta Guerra do Contestado (1912-1916); “Aleluia, Gretchen”, que aborda o nazi-fascismo no Sul do Brasil; “República Guarani”, que atualiza a questão indígena desde o Descobrimento; “Revolução de 30”, a revelação dos primórdios da ditadura Vargas; “Guerra do Brasil”, o primeiro filme brasileiro sobre a Guerra do Paraguai; “Rádio Auriverde”, que traz o desmonte crítico da saga da FEB na II Guerra Mundial; “Yndio do Brasil”, um retrato de como o cinema vê o nosso indígena ao longo do século XX; “Cruz e Sousa – O poeta do Desterro”, a polêmica biografia do maior poeta negro da língua portuguesa; “Lost Zweig”, representação da vida, obra e suicídio do autor do livro “Brasil, país do futuro”; “O Contestado – Restos mortais”, abordagem mediúnica da revolta separatista do Contestado; e “O Universo Graciliano”, docudrama existencial sobre o escritor Graciliano Ramos. 

Sobre o cineasta: 

Sylvio Back, 85, cineasta, poeta, roteirista e escritor. Filho de imigrantes hún-garo e alemã, nascido em Blumenau (SC), detém o título de “Doutor Honoris Causa” pela UFSC. Ex-jornalista e crítico de cinema, realizou e produziu 38 filmes. Tem publicados 35 livros – poesia, contos, ensaios e roteiros. Com uma centena de prêmios nacionais e internacionais é um dos autores mais laureados do Brasil. 

 

18.07, às 17h  

Lance maior (dir. Sylvio Back, Brasil, 1968, 100 min, 14 anos)   

Mário, estudante universitário e bancário, através de uma ligação amorosa com Cristina, jovem rica, orgulhosa e emancipada, tenta ascender social­mente. Coloca-se entre os dois a sensual comerciária Neusa, inexperiente e revoltada com a condição humilde de sua família. Cada um buscando um lugar ao sol da vida, enredam-se num diabólico jogo de sexo e amor.

18.07, às 19h

A guerra dos pelados (dir. Sylvio Back, Brasil, 1971, 98 min, 14 anos)   

Outono de 1913, interior de Santa Catarina, Campanha do Contestado. A con­cessão de terras a uma companhia da estrada de ferro es­trangeira para explorar suas riquezas através de uma serraria subsidiária, além da ameaça de redutos mes­siânicos de posseiros expropriados, geram um sangrento conflito na região. Por exigência dos “coronéis”, forças militares regionais e o Exército nacional intervêm. Mas os “pela­dos” (assim chamados por rasparem a cabeça) se revoltam, protagonizando uma feroz e fanática resistência. 

 

19.07, às 17h 

Aleluia, Gretchen (dir. Sylvio Back, Brasil, 1976, 118 min, 14 anos)   

Saga de uma família de imigrantes alemães que, fugindo do nazismo, vem se radicar numa cidade do Sul do Brasil, por volta de 1937. Às vésperas e durante a II Grande Guerra, membros da família se envolvem com a Quinta Coluna e o Integralismo. Na década de 50, graças a ligações perigosas com o rescaldo da guerra, os Kranz são visitados por ex-oficiais da SS em trân­sito para o Cone Sul. A trama se estende aos dias de hoje. 

19.07, às 19h30

Revolução de 30 (dir. Sylvio Back, Brasil, 1980, 118 min, 14 anos)   

Filme-colagem de uma trintena de documentários e filmes de ficção dos anos 20, culminando com cenas inéditas da Revolução de 1930. Todo em preto-e-branco, o principal tônus é a excelência na restauração fotográfica de suas imagens, emoldurada por uma trilha sonora autêntica, de rara beleza e qualidade de emissão. Duas horas de estupefação, gargalhadas, esgares inesperados, achados anedóticos e ironias sorrateiras. 

20.07, às 17h

República Guarani (dir. Sylvio Back, Brasil, 1982, 100 min, 14 anos)   

Entre 1610 e 1767, ano da expulsão dos jesuítas das Américas, numa vasta área dominada por índios Guarani e parcialidades linguísticas afins, e dre­nada pelos rios Uruguai, Paraná e Paraguai, vingou um discutido projeto religioso, social, econômico, político e arquitetônico, sem equivalência na história das relações conquistador-índio. Trezentos e cinquenta anos depois, é possível identificar uma nostalgia daqueles tempos. Ante às similitudes com o passado, este filme é a retomada do debate. 

20.07, às 19h  

Guerra do Brasil (dir. Sylvio Back, Brasil, 1987, 84 min, 14 anos)   

En­tre 1864 e 1870, a América do Sul é palco do maior e mais sangrento con­flito armado do século, conhecido como a “Guerra do Paraguai”, ou “Guerra Grande”, para os paraguaios. Misturando realidade e ficção, o documentário debate este “ensaio” da I Guerra Mundial, que envolveu Brasil, Argentina, Uruguai e Pa­raguai, vitimando em torno de um milhão de pessoas. No filme, entrelaçam-se a história oficial, o imaginário popular e a crítica de militares, cronistas e his­toriadores, articulados a um complexo painel iconográfico e musical, e a um resgate visual do teatro de operações no Paraguai. 

21.07, às 17h  

Rádio Auriverde (dir. Sylvio Back, Brasil, 1991, 70 min, 14 anos)   

Com imagens e sons inéditos de Carmen Miranda e do Brasil na II Guerra Mundial, o filme penetra no desconhecido universo da guerra psicológica que conturbou a presença da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália (1944-45). Através das musicalmente alegres e irônicas transmissões de uma rádio clandestina, tema -tabu entre os pracinhas, o filme acaba, também, revelando as tragicômicas relações entre os Estados Unidos e o Brasil durante o conflito – cujas consequências jamais se esgotaram. 

21.07, às 19h  

Yndio do Brasil (dir. Sylvio Back, Brasil, 1995, 70 min, 14 anos)   

Colagem de dezenas de filmes nacionais e estrangeiros – de ficção, cine-jornais e documentários – que revelam como o ci­nema vê e ouve o índio bra­sileiro desde quando foi filmado pela primeira vez, em 1912. São imagens surpreendentes, emolduradas por músicas temáticas e poemas, que trans­por­tam o espectador a um universo idílico e preconceituoso, reli­gioso e militarizado, cruel e mágico do nosso índio. 

22.07, às 17h  

Cruz e Sousa – O poeta do Desterro (dir. Sylvio Back, Brasil, 1999, 86 min, 14 anos)   

Biografia do poeta brasileiro, filho de escravos, João da Cruz e Sousa (1861-1898), fundador do Simbolismo no Brasil e considerado o maior po­eta negro da língua portuguesa. Através de 34 "estrofes visuais", o filme rastreia desde as arrebatadoras paixões do poeta em Florianópolis (SC) ao seu emparedamento social, racial e intelectual e trágico fim no Rio de Ja­neiro. 

22.07, às 19h  

Lost Zweig (dir. Sylvio Back, Brasil, 2003, 114 min, 14 anos)   

Última semana de vida do escritor judeu austríaco Stefan Zweig, autor do livro "Brasil, País do Futuro", e de sua jo­vem mulher, Lotte que, num pacto cercado de mistério, se suicidam em Petrópolis (RJ) após o Carnaval de 1942, ao qual haviam as­sistido. Um gesto que ainda hoje, sessenta anos depois, des­perta incóg­ni­tas e assombro pela sua pre­meditação e caráter emblemático. 

23.07, às 15h  

O Contestado – Restos mortais  (dir. Sylvio Back, Brasil, 2010, 118 min, 14 anos)   

Com o testemunho de trinta médiuns em transe, articulado ao memorial sobrevivente e à polêmica com especialistas, “O Contestado – Restos mortais”, é o resgate mítico da chamada Guerra do Contestado (1912-1916). Envolvendo milhares de civis e militares, o sangrento episódio conflagrou Paraná e Santa Catarina por questões de fronteira e disputa de terras, mescladas à eclosão de um surto mes­siânico de grandes proporções. 

 

23.07, às 18h  

O Universo Graciliano (dir. Sylvio Back, Brasil, 2013, 84 min, 14 anos)   

"O Universo Graciliano" é fruto de vasta pesquisa literária e de campo, que ouviu contemporâneos e resgatou locais e arquivos que pareciam perdidos em Buíque (PE), Quebrangulo, Viçosa, Palmeira dos Índios, Maceió (Alagoas) e no Rio de Janeiro, onde Graciliano Ramos (1892-1953) morou até a morte. O filme, que é o primeiro sobre a vida, obra e morte do genial escritor alagoano, procura dar visibilidade a rastros, sombras e escombros memoriais em torno do autor.

Palavras do diretor

Frames da longevidade 

Até recentemente, quando a expectativa de vida do brasileiro girava entre 70 e 75 anos, chegar ou ultrapassar oitenta era excepcional, algo excêntrico e até desnaturado (ué, o cara quer ficar para semente?). 

Feliz, ou infelizmente, pois velhos têm pressa, para quem considera a idade avançada como mero, porque incontornável, azimute biológico, melhor seria capotar jovem (pura retórica, hein?), isso mudou para o bem e para o mal.  

Já é truísmo ouvir macróbios pavoneando que não se reconhecem física e psicologicamente à soleira da “quarta idade” (mas o corpinho é de cinquenta!). Oito décadas seria como rebobinar impunemente o tempo tal qual, ignorando carne, ossos e memória caídos e encardidos, um como que passar a régua num improvável caminho de volta à juventude. 

Seria, talvez, esquecer que existe futuro, o que faz sentido, o futuro te ignora, lembre-se disso. Com um só detalhe a salvar-se do previsível naufrágio: suas criaturas! Não importa o jaez delas, se você é o chamado homem comum (existe esse personagem?), se é o poderoso da vez ou o desgraçado da hora, ou se você é criador, lato sensu, amalgamando tudo, todos e nenhum.  

Alguém que encare os “produtos do espírito”, sim, como primevo avatar tanto crítico quanto solidário sobre o mundo e os homens, fabro que lhe é exclusivo e de mais ninguém! Enfim, senhor de uma prevalência original tão inata e própria quanto o sangue ecoando nas veias. 

Nesse embalo de garimpo existencial é que topei dar passagem a esta breve retrospectiva fílmica para cravar meus oitenta e cinco anos. Mas sob a rígida condição de que não fosse território para uma fieira de mimos encomendados nem indisfarçável egolatria. Simples assim. Que os filmes falem por mim, afinal, eles sempre foram melhores do que eu! Que o digam as dezenas de inestimáveis colaboradores com quem, prazerosamente, compartilho uma obra que, se subsiste, é graças ao estro e à expertise deles. 

Guardo ralas e rasas glórias do passado a festejar. Pelo contrário. Em quantas meu cinema foi omitido, esquecido, desqualificado, ridicularizado, vítima de incompreensões ou, surdamente, patrulhado à direita e à esquerda, só porque caminho com os próprios pés e não alimento espírito de horda.  

Inevitável: são mais de seis décadas circunavegando pela cultura brasileira a bordo de uma obra aberta, que não procura apascentar almas ou fundar verdades unívocas, nem jamais levar o espectador pelas mãos. Adoro deixá-lo na maior orfandade, apenas com suas idiossincrasias, literalmente, consigo próprio. Ele cá e os filmes piscando incólumes nas telinhas e telonas pelos anos afora.  

Sabemos como é forte o simbolismo da efeméride dos oitenta e cinco, do qual não quis nem quero me eludir! Uma idade que, mocinhos, jamais pensamos chegar lá, daí essa ânsia que nos acolhe e recolhe, como criadores, pela refundação memorial da coisa feita, da coisa por fazer, do legado fechado e a ser concluído, antes que sejamos atropelados pelo esquecimento! 

Se nessas palavras contiver algum laivo de petulância, releve caro leitor, é a inescapável armadilha holística da consciência, da qual ninguém escapa, mas cujo fluxo e gozo estéticos são a razão do viver e sobreviver! Sylvio Back  

Governo do Estado de SP