Por sua atuação junto à produção e promoção de filmes e festivais em outros locais do país, o cineasta Abrão Berman ficou conhecido como o “Papa do Super8 Brasileiro”
O Fundo Abrão Berman, parte do Arquivo Histórico do Museu da Imagem e Som de São Paulo, traz uma gama variada de documentos de uma das figuras mais importantes do campo cultural paulistano, da década de 1970.
Berman tinha enorme capacidade de aglutinar pessoas e interesses e assim criou, na época, um dos eventos mais importantes na área cinematográfica do país: os Super Festivais Nacionais do Filme Super8. Ele se formou em cinema na França, no final dos anos 60, e retorna ao Brasil com o intuito de começar uma carreira como realizador. Por conta dos custos e das dificuldades do meio, acabou encontrando no formato Super8 a possibilidade de se tornar cineasta, um formato considerado amador e que sofria resistência de profissionais da área.. Assim, em plena ditadura civil-militar brasileira, cria em 1972, junto a sua sócia, Malu Alencar, a empresa GRIFE (Grupo dos Realizadores Independentes de Filmes Experimentais) para trabalhar profissionalmente com Super8.
Cartaz I Festival em homenagem ao Aniversário de São Paulo. 1981. Arquivo Histórico MIS.
Num contexto onde havia poucas escolas de cinema, o GRIFE ofereceu cursos de cinema em Super8. Além disso, prestava serviços profissionais utilizando-se dessa bitola para agências de publicidade e grandes empresas como: Chevrolet, Globo, Arno, Olivette, etc. Outra ação de muito destaque ligada ao GRIFE foi o programa de televisão Ação Super8, apresentado pelo próprio Berman. Veiculado semanalmente pela TV Cultura de São Paulo, de 1975 a 1981, foi o único programa dedicado ao cinema Super8 na televisão brasileira.
Entretanto, os Super Festivais Nacionais do Filme Super8, ocorridos entre 1973 e 1983, foram o carro chefe do GRIFE. O evento foi o palco do florescimento de uma geração de realizadores que ganhariam as grandes telas rapidamente, como Jaime Monjardim, Flavio Del Carlo, Carlos Porto, Leonardo Crescenti, entre outros. Desde o início, o certame ganhou projeção junto aos meios culturais paulistas, atraindo investidores de peso. As Lojas Fotoptica, de Thomas Farkas, principal incentivador do cinema documental, naquele momento, patrocinou todas as edições do festival. Além disso, o evento conseguiu apoio da Kodak, do INC, da Embrafilme e da Funarte, naquele período ligado ao MEC, através da Funarte.
Os festivais figuraram em um período de pouco mais de uma década, que foi muito movimentada, despertando paixões, criando polêmicas, envolvendo jovens, cineastas, artistas plásticos, entre outros personagens ligados a cultura. Na virada para os anos 80, com a introdução do vídeo, o Super8 perde importância. As três últimas edições do festival marcam sua derrocada. Berman se negou até onde pode a aderir ao formato eletrônico. Nesse sentido, ele perdeu uma grande oportunidade de acompanhar o mercado audiovisual de sua época. Os festivais findam em 1983. Mesmo ano da primeira edição do festival Vídeo Brasil. No ano seguinte, o GRIFE fecha as portas e seu endereço, ironicamente, vira a sede da primeira videolocadora do país.
Foto: Folder do XI Superfestival Nacional/ II Superfestival Internacional do Filme Super 8. Reprodução Arquivo Histórico MIS.
Flavio Rocha é Mestre em Imagem e Som, Especialista em Comunicação e Semiótica, Bacharel em História e estuda cinema Super8 há quase duas décadas. Participa ativamente da renovação do “movimento” superoitsta contemporâneo. E é fotógrafo e documentarista, tendo atuado em diversos projetos culturais.
Bibliografia
AMORIM, Lara. FALCONE, Fernando Trevas. Cinema e Memória: o super8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.
LEÃO, Antonio. Super8 no Brasil: um sonho de cinema. São Paulo: Editora do autor, 2017
ROCHA, Flavio Rogerio. Super Festivais do GRIFE: produção, circulação e formação de cineastas no Super8 brasileiro (1973-1983). Dissertação de mestrado. UFSCAR, 2015.
CRUZ, Marcos Pierry Pereira da. O Super-8 na Bahia: história e análise. São Paulo. 100 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação), Universidade de São Paulo, 2005.
DARONCO, Marilice Amábile Pedrolo. O Nosso Cinema era Super. 1ª ed. Santa Maria: Câmara de Vereadores, 2014.
FIGUEIRÔA, Alexandre. O Cinema Super 8 em Pernambuco: do lazer doméstico à resistência cultural. Recife: FUNDARPE, 1994.
MANTECÓN, Álvaro Vázquez. El Cine Super8: 1970-1989. México: Filmoteca UNAM, 2012.
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